Na sequência do artigo de há uns dias sobre as palavras inglesas de origem portuguesa, fui tentar encontrar palavras espanholas que tivessem sido roubadas à nossa língua. São raras, mas existem: são os chamados lusismos do espanhol.
Depois de escavar um pouco, encontrei este artigo de Fernando Venâncio sobre o assunto.
Curiosamente, o artigo explica que é muito difícil saber quais são as palavras que têm origem no português e quais têm origem no galego. Afinal, nem sempre é fácil perceber onde acaba a nossa língua e começa a língua dos vizinhos de cima (ou se não serão ambas a mesma língua, no fim de contas).
Portanto, estes são 12 exemplos de palavras espanholas de origem portuguesa (começamos com algo muito doce, passamos por várias palavras aquáticas — afinal, somos gente da água — e acabamos com muito prazer):
- caramelo
- alecrín
- jangada
- lancha
- ostra
- perca
- mandarín
- barroco
- chato
- mimoso
- enfadar
- placentero
E lá vão as línguas emprestando e roubando alegremente.
O que só lhes fica bem.
Hombre “robar”…, ya se sabe que las palabras se utilizan del de al lado, cuando no se tienen propias…, ¿Por qué decís “tantas palabras del francés o del japonés con origen portugués…” y luego 12 palabras portuguesas que los españoles NOS ROBARON…, ¡QUÉ FORMA MÁS RUÍN DE EXPRESARSE!
Cara Victora, é absolutamente irónico e em caso algum depreciativo. Se ler os vários posts, verá que tenho uma visão muito positiva destes roubos. Um pouco de “sal” e de ironia, nada para levar a mal! 🙂
Muito grato ao Marco Neves pela referência. O meu estudo tem já uns aninhos, tempo suficiente para concluir que “chato”, “placentero” e quase seguramente “barroco” não são lusismos em castelhano. As buscas prosseguem…
Faltam mais algumas. Agora lembra-me especialmente “chubasco”, (“bátega”,”aguaceiro”), o seu derivado “chubasquero” (“capa para a chuva) e outros (“chubascada”, “chubasquería”) que têm a sua raiz evidente em “chuva”. No dicionário da RAE (Real Academia Española) deram entrada também, recentemente,”saudade” e “morriña”, não sei muito bem se como empréstimos do galego ou do português, mas, como quase sempre, essa discussão costuma ser ociosa. “Morriña” é um caso engraçado porque representa uma palavra “de ida e volta”, pois a “morrinha” é uma doença que afecta os equídeos e a palavra é formada sobre a base de “morro”, que em castelhano designa o focinho dos mamíferos (pois, essa palavra está também na base de uma das palavras mais brasileiras do mundo). Já em galego a “morrinha” passou (pelo estado de prostração que provoca) das bestas para as pessoas e costuma utilizar-se como sinónimo de “saudade” e é com esse sentido que se incorporou ao espanhol. Também sinto a falta de “mermelada”, “cariño” (à qual se costuma atribuir uma “viagem” em sentido inverso, mas que para mim a origem mais plausível seria um diminutivo regular de “caro”), e sobretudo, por falar em “sentir a falta”, a expressão “echar de menos” (=”ter saudades de…” “sentir a falta de…” que, interpretada literalmente em castelhano, não fez qualquer sentido (seria “deitar de menos” ou “expulsar de menos”), é explicada como um decalque de uma antiga expressão portuguesa “achar a menos”, pela simples semelhança fonética entre o “achar” (então pronunciado “atchar”) do português e o “echar” (=”deixar”, “lançar”, “atirar”, “expulsar”, “ejectar”) do castelhano
Sou de origem alemã, 80 anos de idade. Criado no Uruguay, aprendi “espanhol” desde menino e sempre a considerei minha “língua materna”. Sem desprezar o alemão de meus pais e o inglês escolar (e professional, mais tarde). Contudo, moro no Brasil há mais de 40 anos e, instintivamente, “penso” em português paulista. Qual é a conclusão? Sou torcedor do “tricolor paulista”!
Tenho uma questão.
Traduzir uma palavra é o mesmo que explicar o seu sentido?
Naqueles exemplos de palavras “intraduzíveis” eu não consigo ver a tradução.
Vejo uma definição…
O artigo explica isso um pouco mais abaixo. Uma das técnicas habituais ao dispor de um tradutor é usar uma expressão maior para traduzir uma palavra. Essa expressão pode ser uma definição da palavra original. A tradução raramente é uma substituição palavra por palavra. Por exemplo, se um tradutor inglês encontrar a palavra de português do Brasil “caçula”, pode usar “youngest child”. É uma definição e, simultaneamente, uma tradução perfeitamente correcta. Diga-se que, normalmente, na tradução de uma palavra inserida numa frase, não é necessário usar a definição completa.