Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

«Obrigada» e «copo de água»: erros de português?

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Numa das partilhas do artigo em que tento mostrar que «queria» é uma forma correctíssima de pedir alguma coisa e critico a piada comum em muitos cafés desse país, houve quem justificasse o uso desta correcção excessiva:

Há muitos anos a trabalhar atrás de um balcão e bom aluno na disciplina de língua portuguesa vou escrever quase da mesma maneira que um prémio Nobel escreveu essa linguagem serve para quebrar algum gelo ou carrancas de alguns clientes não se podem nem devem esquecer que alguns daqueles que aturam as vossas mágoas ou dores provavelmente terão mais habilitações que vós mas há um balcão a separar uma noite descansada

Imagino que, sim, em muitos casos será uma piada para quebrar o gelo.

Respondi que o artigo não era, de forma alguma, para atacar a profissão, mas antes para fazer ver que as nossas correcções apressadas do português dos outros nem sempre sobrevivem a um pouco mais de atenção. Aliás, o artigo em causa continuava com uma lista de outras correcções excessivas, que são apresentadas fora dos balcões deste país.

(Já agora, a falta da pontuação no comentário parece ser uma referência a Saramago. Será fruto, talvez, desse mito que por aí corre de que o escritor não usava pontuação. Usava, e não era pouca… Já falámos disso por aqui, no artigo «Saramago não sabia escrever português?»)

Ora, compreendendo que o artigo pode ser interpretado como ataque a toda uma classe que não merece tal desfeita, apresento-vos mais duas dessas correcções de quem encontrou uma qualquer lógica avulsa e se convence que os outros estão todos errados (podemos chamar a isto a síndroma da contramão na auto-estrada?).

«Obrigado» ou «obrigada»?

Há alguns anos, estava eu a folhear vagarosamente uns livros na Fnac, ouvi uma conversa entre um casal aí pelos seus trinta anos. A rapariga folheava furiosamente um dicionário, até chegar à palavra que queria.

«Estás a ver? “Obrigada” não aparece no dicionário! Não existe! A tua irmã está enganada. Dizer “obrigada” é erro.»

O rapaz ficou calado, sem saber o que dizer.

Apeteceu-me explicar que os dicionários não apresentam todas as formas e que uma palavra com forma feminina, em muitos casos, só aparece na forma masculina (goste-se ou não desse machismo lexicográfico).

Mas não disse nada. Deixei-os na ignorância de que «obrigada», dito por uma mulher, está correctíssimo.

A vontade de encontrar erros nos lábios dos outros é tanta que às vezes dá nisto… (E não saber como funcionam os dicionários também não ajuda.)

Um copo com água? Não pode ser um copo de água?

Ora, anos depois, num lindo fim de tarde — ou melhor, hoje mesmo, ali num café perto do Oceanário onde fui com o meu filho e a minha sobrinha que anda por cá a passear com os pais, num Natal tardio, estava eu a beber um café quando um senhor muito bem vestido e seguro de si se chega ao balcão e diz, bem alto, «quero um copo com água!» Sim, o «com» foi dito com negrito e tudo.

Longe de mim criticar tal construção. Está correcta, tal como dizer «vou tomar uma colher com xarope» ou «passa-me a chávena com chá».

Mas lá que tresanda a preciosismo, não haja dúvida. O tom do senhor bem parecia dizer: «ó para mim a usar a construção correcta, ao contrário de tantos outros».

Enfim, se calhar estou a ser muito injusto. Vai na volta, o senhor sempre disse «copo com água» (e gosta de sublinhar as preposições com a voz).

Seja como for, parece que algumas pessoas concluíram que, se o copo não é feito de água, só podemos usar a preposição «com»: queremos um copo com água, não um copo feito de água.

As regras da língua, que temos cá dentro e não são fáceis de descrever, mesmo quando as usamos sem dificuldade no dia-a-dia, parecem ser mais complexas e até um pouco mais flexíveis (ah, o horror) do que essas lógicas da batata que inventamos a correr, só para termos o prazer de tomar os outros por parvos.

Afinal, quando falamos de algum tipo de material que está dentro de um qualquer recipiente, diz-nos a língua que temos cá dentro que podemos usar a preposição «de»: «um balde de areia», «um camião de tijolos», «um copo de água», «uma colher de xarope», etc.

Porquê?

Porque é assim que o português-padrão funciona. Sim, exacto. Se, no entanto, formos mais curiosos, podemos até tentar descortinar a lógica mais profunda dessa construção, por mais fugidia que nos pareça: estamos a dar mais atenção ao conteúdo e não tanto ao recipiente — falamos da areia, dos tijolos, da água, do xarope. O que vem antes (o balde, o camião, o copo, a colher) serve de medida daquilo que nos interessa (embora também sirva de recipiente, é verdade). É quase como dizer: «quero um metro de tecido» — da mesma forma, «quero um copo de água».

O curioso é que ninguém ouve «quero um copo de água» e pensa num improvável copo feito de água. Todos percebemos perfeitamente a expressão, ela é usada em todos os registos e faz parte do português-padrão — e mesmo assim leva pancada de algumas pessoas, que enfiam uma qualquer lógica aleatória pela garganta da língua abaixo.

Quando nos pomos a tentar encontrar à força parvoíces no português, é isto que acontece.

Tudo isto para dizer que, não, estas correcções forçadas e erradas estão muito longe de ser apanágio desta ou daquela profissão. Os empregados de balcão não são mais ou menos propensos a estas manias. É uma profissão como as outras, pois então: deste e daquele lado do balcão, há muita gente com demasiada vontade de encontrar erros de português na boca dos outros.

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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35 comentários
  • Eu por acaso peço “um copo com água”, mas nunca tinha perdido tempo a pensar nisso, mas agora deixou-me a pensar. Perdi alguns minutos a pensar também nos outros exemplos e como os uso e cheguei a uma conclusão: pegando na “chávena” para exemplo (ou xícara também daria para o efeito), eu digo “uma chávena com leite” se for para referir o leite que se encontra no recipiente mencionado (à semelhança de pedir água num café), se for para o pequeno almoço por exemplo; já se for como medida aí digo “chávena de leite” (como quando faço pudim de leite condensado e uso duas medidas de leite por cada de leite condensado, como tenho latas de litro de leite condensado acabo por utilizar a xícara como medida). Mas não digo dessa forma conscientemente ou porque quero ser correcto, simplesmente sempre o disse dessa forma e é-me lógico assim ser.

    • Nada contra, claro. 🙂 O problema é quando alguém diz que o “com” é a única alternativa correcta. Não é.

  • Subscrevo o teor do que foi dito. Como se sabe, há muitas mais construções destas (e até doutras) em que as pessoas nem pensam, sai-lhes (quase) automaticamente porque, em geral, se aprendeu a Língua por imitação e repetição (no início, oralmente), interiorizando-a e entranhando-a assim, antes que se reflicta muito sobre o assunto. Os exemplos são interessantes, as observações (todas) são pertinentes. De passagem, e porque me lembrei, acrescentava (embora de nada adiante neste momento) exemplos da área da culinária (com a qual tenho tanto a ver como qualquer outra pessoa) como “sopa de feijão, de ervilha, de tomate”…, “canja de galinha”, arroz de marisco” e outros, Ou, ainda, estes exemplos (entre muitos), que nunca vi fosse quem fosse questionar (e que caem mais claramente na esfera da estilística), como “ler Camões”, “comer um prato de lentilhas” ou “beber um copo” (se não me erro, metonímias).

  • Então o “de” se refere a medidas.
    Muito interessante.
    Balde, chávena, copo, caminhão são medidas do seu conteúdo.
    Gostei!
    Vivendo e aprendendo.
    O português é mesmo uma língua que encanta.

  • Aproveitando a ocasião corrijam esse erro de português – correto ; correções ; ativo ; ator; atriz….. Não utiliza-se mais o c ‘mudo’

      • Sr. Marcos Neves.
        Escreva sempre do jeito que o Sr. preferir.
        Eu continuarei o admirando da mesma forma.
        Adoro seus artigos, e coleciono alguns deles como “A História Secreta da Língua Portuguesa”.

      • Caro Marco Neves, concordo com a sua explicação e todos os dias repito aos pequenitos que Obrigada é uma resposta a algo que nos fizeram, por isso se é uma mulher a agradecer diz Obrigada, se é homem diz Obrigado. E aprendem facilmente com essa pequenina explicação. Aqui entre nós, não lhe apeteceu responder a quem lhe disse que escrevia com erros pelo facto de não seguir o AO, com : “corrija então o “não utiliza-se mais” por : “já não se utiliza…” (sorriso)

    • Sinhora Dona Eduarda Ferreira :
      Gostei dessa para caramba (diz-se assim ´?).
      Querer tomar-se por mais esperta e depois usar uma coisa como : “Não utiliza-se mais” … Isso quer dizer “ukê ?”

      • É possível que a colocação do pronome seja típica do português do Brasil. Mas não posso ajuizar.

        • Essa colocação do pronome é típica da mania de hipercorreção de alguns brasileiros que, desconhecedores das regras de colocação pronominal tradicionais, acham que acertarão sempre se meterem o pronome à frente do verbo. Mal sabem que, em português brasileiro, nunca se erra se se usar a próclise, nunca mesmo, que a ênclise aqui praticamente morreu, vivendo, quando muito, na posposição do pronome ao verbo no infinitivo: “para fazê-lo”, “para não desapontá-lo” (sim, aqui o pronome seguirá, neste caso, ao verbo no infinitivo, ainda que haja advérbio de negação, pronome relativo ou qualquer outra palavra dita atrativa).

          A propósito, li recentemente um bom artigo de uma especialista portuguesa que defendeu ser a próclise a regra mesmo para o português europeu. Cito um trecho desse artigo:

          “Uma regra simples como esta, com tantas exceções, só pode estar errada. Mais correto será dizer-se que a regra é inversa: a posição lógica, normal é a próclise, sendo, portanto, regra a longa lista de exceções geralmente apresentada pelas gramáticas. Significa isto que a regra da ocorrência do pronome clítico é a sua ocorrência antes do verbo, exceto nas declarativas, afirmativas simples”. (Fonte: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/controversias/a-colocacao-dos-pronomes-cliticos-ou-a-proliferacao-dos-erros-induzidos/3313)

    • Pois eu entendo precisamente o contrário: “correto ; correções ; ativo ; ator; atriz” são erros crassos impostos por um AO inexistente, obra de meia dúzia de lunáticos armados em linguistas. Por alguma razão as consoantes “mudas” se mantêm em certas palavras: o “espetador” espeta, o espectador assiste, vê; o “cagado” é porcaria, o cágado é um animal…
      E mais: não leio nem compro livros escritos ao abrigo do AO90! E tenho do meu lado milhões de resistentes…

      • Eu sou uma resistente, escrevo “à moda antiga sempre que escrevo fora do trabalho.
        Não consigo entender como alguém consegue ser tão persuasor que leve grandes estudiosos portugueses a dobrarem-se às vontades absurdas de implementação do Português abrasileirado como Língua Oficial Portuguesa.
        Todavia, penso que, por força de tantas regras e desregras e afins, as pessoas retiram todas as consoantes sejam ou não legíveis. Já foram aqui dados vários exemplos eu acrescento “ata”. Como é possível esta falha?
        A minha maior admiração vai para a forma brejeira como este acordo foi implementado.

  • Digo sempre “copo de água” e aturo estóica e divertidamente a “matreirice” – quando ocorre – dos trabalhadores da hotelaria ao serviço no balcão. É que a situação presta-se mesmo a isso. O copo de água existe, sem água dentro. Trata-se de uma peça de “couvert”, pura e simplesmente. Evidentemente que ninguém imagina um copo feito de água, e os falantes não verbalizam, por completa impossibilidade, o que não imaginam, por lhe não reconhecer estatuto de real. Já do copo de leite não se poderá dizer o mesmo, por tal peça de “couvert” não existir, ou, pelo menos, não ser comum e vulgar. Daí que imagino que os divertidos trabalhadores da hotelaria, para alguém que leva o preciosismo (ou o hábito, porque não o regionalismo?) ao pé da letra, quando pedem um copo com água, podem sempre retorquir matreiramente e com toda a pertinência: ” mas deseja o copo com leite num copo de água ou de vinho”?

  • A escrita de Saramago sem pontuações, no entanto, não é original. Lembro das leituras dos meus verdes anos de juventude, ainda Saramago estava nos obscuros confins de sei-lá-o quê, ter lido um autor latino-americano, talvez Vargas LLosa (não consigo recordar de todo em todo), cujo romance era todo sem pontuação. Geralmente leio rápido, mas aquele livro bem que me deu trabalho….

    • Mas repare: a escrita de Saramago tem MUITA pontuação. A ideia de que não tem é um mito. Se abrir um livro do autor verá que não faltam vírgulas e pontos. Obrigado pela visita ao blogue, espero que goste.

      • O Memorial do Convento não tem pontuação. Não sei se tem mais alguma obra assim, por exemplo o Ensaio Sobre a Cegueira é, completamente, pontuado.

        • O Memorial do Convento tem pontuação em todas as frases. Estou a folhear o livro neste momento…

  • Ante todo, ¡felicitaciones por el blog! Hace ya un tiempo que lo sigo y me encanta. Con respecto a “un vaso de agua” o “un vaso con agua”, se da la misma historia en muchos países hispanohablantes: hay quienes piensan que la forma “un vaso con agua” no solo es correcta, sino que es la “única” correcta… En fin…
    Un saludo cordial desde la calurosa Buenos Aires,
    Alejandro

  • Escrevo apenas para manifestar o meu contentamento pelo tratamento das expressões “copo de água” e “obrigado/a”. Não menos importante, a forma “queria” para fazer um pedido educadamente.

    Gostei da maneira como foram abordadas as explicações.

  • Goste-se ou não, e para quem olha às regras, tem de se seguir as regras. O português oficial agora tem outras regras de escrita, logo este artigo está cheio de erros. Goste-se ou não, concorde-se ou não, as regras são para cumprir. Senão os meus avós ainda há poucos anos (quando eram vivos) escreviam como nos seus tempos de jovens, conforme nas primeiras décadas do século XX era oficialmente de uso corrente…

  • Esta questão do “copo de água” ou “copo com água” já é antiga. Creio lembrar-me de ter lido algures uma explicação que me parece muito plausível: sim, é verdade que na grande maioria dos casos um falante de português europeu pediria um “copo de água”, mas há contextos em que é importante distinguir um “copo de água” de um “copo com água”. É o caso dos cafés (como provam alguns exemplos aduzidos acima) e provavelmente da restauração em geral. Para um empregado de café que se dirige ao balcão a pedir um copo, é importante que o pedido seja claro: precisa de um “copo com água” (isto é, um copo com água dentro) ou de um “copo de água” (ou seja, um copo daqueles usados para servir água, por oposição a um copo de cerveja ou um copo de vinho do Porto). Neste caso a distinção é pertinente porque nos cafés existem muitos tipos de copos e quanto mais claro for o pedido mais rapidamente poderá ser atendido. Para o resto dos mortais, a distinção é supérflua e pode ser (mal) entendida como um preciosismo. Os mal-entendidos também podem surgir entre pessoas que interiorizaram esta distinção, mesmo inconscientemente, e quem a não entende.

  • Caro Marques Mendes

    Este comentário nada tem a ver com o artigo em tópico, mas estando a comenta-lo com uma amiga, esta diz ter memorizado uma frase na faculdade (frase essa que, por todos os alunos, foi objecto de discussão) e que ainda hoja não consegue apreender o seu significado. Será abusar da sua paciência pedir-lhe uma ajudinha ? A frase é a seguinte: “A mera gnosologia divorciada da axiologia, por um lado e da dentologia por outro, não se transforma, sem mais, na razão do dever ser”. Obrigada e desculpe a ousadia. Se algum aconpanhante deste blogue souber também agradeço a ajudinha.

  • Por acaso sou desses presunçosos da língua, confesso. Provoca-me imensa infelicidade, até porque estou sempre num processo de autocensura. No supermercado, por exemplo, dou por mim a pedir um determinado peso de fiambre que dê para explicar que são duzentos gramas e não duzentas gramas. Acho que vou dar num daqueles velhos que escreve para a televisão a explicar que gramas (de peso) é uma palavra masculina e não feminina.
    Em boa verdade, já o fiz… e a jornalista aceitou tão bem a minha correcção que editou a reportagem e no telejornal seguinte, a peça estava já em condições com os trinta gramas de ouro.
    Mas quanto ao copo, sempre achei que a sua classificação tinha mais a ver com o fim a que se destina do que propriamente do que é feito. Há copos de vinho, de cerveja, de água, de champanhe, etc. E por isso, quando peço um copo com água, ponho mais a tónica no que quero dentro do copo do que especificar em que tipo de copo quero. Por exemplo, normalmente os copos de água são maiores do que os de vinho e pode haver quem prefira encher um copo de água com vinho.

    • Mas atenção que a questão dos gramas e das gramas está bem longe do problema do “copo de água”: um copo de água não é erro em lado nenhum; já “uma grama” é erro, pelo menos por enquanto…

    • Esqueci-me de acrescentar isto: muito obrigado pelos comentários e pelo interesse no blogue! Um abraço

  • O execrável «copo com água»

    O grande problema não é saber-se poucas coisas. Nem tampouco saber-se mal as coisas. É antes saber-se um excesso de coisas erradas. (…)
    Chego ao quiosque dos jornais e uma menina adianta-se, a dizer que queria um maço de tabaco. “Queria?” – pergunta o estanqueiro, subtil. A menina emenda: “Queria, não! Quero!”. Ah, ah, ah, ih, ih, ih, amigos como dantes. E na face do homem quando me atende, lê-se a alegria benemérita do didactismo satisfeito. A rapariga estava a ser imprecisa e ele corrigiu. Ganhou o dia. (…)
    Mas na tabacaria não fornecem água. É na leitaria, ao lado, que me é propiciada, dia sim, dia não, uma prelecção linguística sobre o “copo de água”. “Um copo de água!” pede o cliente (…). “Um copo de água?”, ri-se o empregado, “veja lá!”. “Ah, pois”, emenda o outro, “um copo com água, claro”. Ah, ah, ah, oh, oh, oh! Eu nestas coisas não intervenho. Para quê? Perdia a discussão e passava por iletrado… (…)

    Mário de Carvalho (texto com supressões) – jornal “Público” de 28.05.96

    Não digas Mas diz
    Caixa com fósforos Caixa de fósforos

    pois também não dizes: tal como dizes:
    lata com conservas lata de conservas
    garrafa com azeite garrafa de azeite
    barril com vinho barril de vinho

    Dirás, portanto:

    Queria um copo de água, se faz favor.
    Ele bebeu um copo de vinho.
    Bebi um copo de leite.
    Ela comprou uma garrafa de azeite

    in “Elementos da Gramática da Linguagem Portuguesa” (com adaptações) – Xavier Roberto

  • Não meu caro, não existem todas as palavras em dicionários, mas existe uma coisa chamada “prontuário ortográfico” e segundo o mesmo “obrigada” existe sim, mas como tempo do verbo obrigar e não como agradecimento. “obrigado” que significa “agradecer” não é forma masculina de “obrigada” como erroneamente referiu em cima, é uma palavra neutra ou seja, é sempre “obrigado” seja a palavra aplicada por quem quer que seja. O que acho incrível é aparecerem pessoas como você a assassinarem a língua portuguesa e a publicarem livros com corruptelas como esta pérola que já se tornou tão comum que o erro já passou a verdade.

    • Sim, existem essas duas interpretações, o que leva a que uma mulher possa usar «obrigada» ou «obrigado» (neste último caso, a palavra é considerada interjeição). Quanto à acusação de «assassínio da língua», o meu caro leitor caiu na preguiça habitual de muitos que preferem discursos hiperbólicos ao pensamento sereno e à discussão honesta. Tenho pena, mas não posso fazer nada.

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