Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Viagens na minha língua
(e mais além)

Aqui fica, em jeito de pré-publicação, o primeiro capítulo do livro Palavras que o Português Deu ao Mundo — Viagens por Sete Mares e 80 Línguas.

O livro estará nas livrarias no dia 6 de Março. No entanto, se desejar receber o livro em casa, sem portes de envio (em Portugal) e com autógrafo, faça a encomenda nesta página. Espero que goste!

1. Viagens na minha língua (e mais além)

As viagens e o prazer de passar os dedos no mapa – Uma língua em que o nosso país tem um nome que não lembra ao diabo

Que viaje à volta do mundo em 80 dias quem tem a sorte de ser um gentleman inglês do século XIX. Por cá, com esta língua vadia que Deus nos deu, o que me apetece é fazer antes uma viagem pelas línguas do mundo, tal como as vemos e ouvimos nós, que falamos português – pronunciei-me!

Ah, o prazer de partir de viagem.

Imagine-se à beira da sua casa, com o carro cheio de malas e um mapa estendido em cima do volante, pronto a partir. Antes mesmo de sairmos para a estrada, olhamos para o mapa e vemos os nomes das terras, dos países. Sentimos a linha da fronteira com o dedo, imaginando o prazer de novas paisagens, novos sabores, outras línguas à nossa volta, palavras estranhas nas placas da estrada.

Sei que a imagem peca por algum anacronismo – hoje em dia, o mais provável é olharmos para os itinerários simpaticamente calculados pelo Google Maps. Pois bem, em papel ou no telemóvel, temos o itinerário à nossa frente.

Antes, um aviso: o leitor aceitou fazer esta viagem para procurar palavras que Portugal deu ao mundo (é esse o título do livro). No entanto, faremos muitos desvios, descobertas, divagações… Havemos de encontrar palavras que demos ao mundo — mas também palavras que o mundo nos deu, palavras que pertencem a outras línguas, palavras que andam a viajar e a mudar pelos séculos fora. Vamos até, com a ajuda da imaginação, viajar pelo tempo. Este é também um livro de aventuras!

Seja como for, muitas das viagens que faremos neste livro começarão pela nossa língua. E, para dizer a verdade, mesmo quando olharmos com atenção de viajante para outros idiomas – e serão muitos –, aquilo que aprendermos ajudar-nos-á a compreender melhor o português que usamos todos os dias.

A viagem faz-se pelas páginas deste livro que tem nas mãos. Mas que esta seja o prenúncio de outras viagens – e que este livro seja uma inspiração para as mentes curiosas que gostam de saber um pouco mais sobre o mundo que as rodeia.

*

Para aguçar o apetite, peço ao leitor que se imagine a percorrer as ruas de uma cidade longínqua cujo nome não quero dizer (para já). Encontra uma livraria com os apetitosos livros na montra. Entra. Segue para a secção dos atlas – afinal, tal como eu, tem um certo fraquinho por mapas.

Encontra um atlas na língua do país onde se encontra. Folheia o calhamaço e pára na página com o mapa da Europa. Irresistivelmente, dirige o olhar para uma certa península ali no canto inferior esquerdo – e tem uma surpresa.

Que surpresa será? Bem, antes de continuar, notemos que há países que mudam de nome com muita facilidade. Pensem só nos pobres alemães, cujo país é «Deutschland» lá dentro, mas passa a «Allemagne» logo ali no sul da Bélgica – e é «Germany» em Inglaterra. Somando as variações, são não sei quantas Alemanhas diferentes há por essa Europa fora.

Já nós vivemos num país com um nome sólido, daqueles que se aguenta firme ao vento das diferentes línguas – pelo menos, na escrita. Avançamos pela Europa e temos «Portugal» (espanhol), «Portugal» (catalão), «Portugal» (francês), «Portugal» (inglês), «Portugal» (alemão), «Portugal» (norueguês), «Portúgal» (raisparta o acento do islandês).

Até os bascos, que têm uma língua daquelas de bater com a cabeça na parede, chamam ao nosso país… «Portugal»! Os húngaros, donos doutra língua que parece inventada só para nos atrapalhar, chamam ao nosso país «Portugália». Enfim, não é a mesma coisa, mas quase. Os finlandeses dizem «Portugali». Os italianos, tão latinos como nós, dão um nome virado para o azeite, mas mesmo assim não fogem muito: «Portogallo». Os romenos também não são especialmente originais, mas põem ali umas letras finais: «Portugalia».

Pois bem. Está o leitor nessa cidade longínqua. É certo que não é na Europa, mas o alfabeto da língua do país é o latino. Logo, presumiria que o nome do nosso país teria algo que ver com as letras do nome português de Portugal.

Qual não é o seu espanto quando vê este mapa:

Mas que língua será esta? E por que razão o nome do nosso país se transformou em «Ureno»? Havemos de saber. Aliás, como veremos, aquela palavra estranha esconde uma palavra muito nossa.

Ainda temos muito que andar: é uma volta ao mundo, afinal. No primeiro dia de viagem, seguimos de Ureno até Inglaterra…

Percurso

  1. Portugal | Viagens na minha língua (e mais além)
  2. Inglaterra | Uma viagem pelas palavras da família
  3. Canal da Mancha | Viagem ao passado do inglês
  4. Bruxelas | A nossa moeda chama-se «evro»?
  5. Croácia | As línguas do futebol
  6. Dalmácia | O que perdemos quando morre uma língua?
  7. Malta | Uma viagem pelas praias da Europa
  8. Grécia | Viagem a bordo da água
  9. Roménia | Que sabor tem o nome de Portugal?
  10. Rússia | Os nomes da sexta-feira
  11. Turquia | Uma letra com pinta
  12. Fenícia | Que animal se esconde na letra A?
  13. Arábia | O que se esconde na palavra «livros»?
  14. Quénia | A língua em que a meia-noite é às seis
  15. Maldivas | Uma prima do português
  16. Sentinela do Norte | Uma língua desconhecida
  17. China | Qual é a língua mais falada em Macau?
  18. Coreia | Entre letras e sílabas
  19. Japão | «Arigato» tem origem portuguesa?
  20. Havai | A rainha a bordo dum Kona?
  21. Nova Iorque | A cidade das 1001 línguas
  22. Curaçau | Uma língua à portuguesa nas Caraíbas?
  23. Brasil | O Eça traduzido para «brasileiro»?
  24. Galiza | Uma viagem do arco-da-velha
  25. Mundo | Qual é a língua mais antiga do mundo?

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O livro estará disponível nas livrarias a partir de 6 de Março. Se, no entanto, desejar receber um exemplar em casa, sem custos de envio em Portugal e com um autógrafo, pode encomendá-lo no formulário abaixo. Obrigado!

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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